terça-feira, 16 de outubro de 2007

A nuvem de tédio


Há uma música de Zeca Afonso que diz " A morte saiu à rua num dia assim...". Ora se contextualizarmos a coisa, para o nosso Fundão seria mais "O tédio saiu à rua num dia assim...". E o diacho do tédio é um vadio, porque saiu à rua e lá ficou. Imagino uma nuvem tóxica de tédio, tipo as nuvens radioactivas dos desenhos animados, silenciosa, a espalhar-se pela cidade e fazer murchar tudo à sua passagem...
O pessoal bem quer sair mas o tédio rouba-nos a força das pernas. Como dizia um amigo meu, "os cafés cheiram a paragem, a vazio"; e é! Se eu ao menos fumasse, ainda tinha a desculpa para sair, ia fumar um cigarrito; mas assim, sem o vício pernicioso do fumo, saio para quê? Não se vê ninguém a não ser a maldita nuvem! Se calhar é por isso que o Imago foi tão magro. E que todas as iniciativas ditas culturais que ocorrem na nossa cidade têm tão fraca adesão.
Estaremos a ficar velhos? OK, o Fundão nunca foi muito animado mas não estava morto. Agora podemos dizer que está morto; ou pelo menos, que está mergulhado numa letargia molengona, como se estivesse cheio de preguiça.
Apetece-me sair à noite mas para quê? Quase que tenho medo de sair, esta cidade parece uma cidade fantasma. O que se passa com esta gente? O que se passa com esta terra? Parece que o tédio entrou pelas narinas dos fundanenses, percorreu o caminho até ao cérebro e aí se instalou, como se fosse o rei das circunvalações. E aí se reproduziu. E produziu mais tédio. As pessoas estão entediadas. Ficam em casa a ver a novela da SIC. Ou a bordar. Ou a ver a TVI... A minha televisão está na TVI... SOCORRO!!!!

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