Aproveitando a acha deitada para a fogueira pela tigelada das beiras, pergunto: mas o que é que se passa com os condutores deste país? Reparem bem, nestas últimas semanas tem sido um vê-se-te-avias de acidentes e atropelamentos. Num livro qualquer que eu li na minha infância havia um personagem, também ele uma criança, que dizia "Eu até compreendo que os carros se queiram suicidar, só não entendo porque é que o fazem com gente lá dentro". Ora, se os carros levassem realmente gente, pessoas civilizadas, talvez não se suicidassem tanto. Se calhar o facto de, por vezes, transportarem uma espécie de anormais que não sabem as regras do código, talvez porque a carta lhes saiu no OMO ou na farinha Amparo, faz com que os carros entrem numa depressão tal que cometam suicídio. O que é triste é que às vezes, infelizmente muitas vezes, acabam por arrastar pessoas inocentes que estavam no local errado à hora errada.
Quem não sabe conduzir não conduz; ou se se apercebe que tem limitações, anda mais devagar e guarda mais distância dos outros carros. Ou não arrisca numa ultrapassagem sem ser numa autoestrada. Ou, se a fizer numa autoestrada, recorde por favor, a regra da condução: o condutor só retorna à faixa de rodagem da direita, após uma ultrapassagem, quando o veículo ultrapassado for visível no espelho retrovisor interior. Se esta regra tão simples tivesse sido seguida no dia 05 de Novembro, provavelmente não teriam morrido 16 pessoas, nem estariam 13 ainda internadas, uma delas em estado crítico e outra em risco de ficar paraplégica.
Claro que isto foi um prato para as televisões deste país. Mas que palhaçada foi esta de transmitir o funeral? Tudo bem que foi um acidente aparatoso, já há muitos anos que não morriam tantas pessoas num acidente de viação, mas fiquemo-nos pela notícia do acidente. Qual é o interesse em ir ao funeral, tirar fotografias aos caixões (por amor de Deus!) e às famílias em sofrimento, às carrinhas funerárias a serem carregadas com as flores? É chocar o país? O país já estava chocado, não precisava de mais. Chocadas ficaram as famílias, que quando ainda estavam a tentar recompôr-se e a tentar esquecer esse inferno, tiveram de levar com o funeral no telejornal da hora do almoço. E não fosse algum pormenor ficar esquecido, no telejornal do jantar, pimba!, funeral outra vez. Por favor, já foi suficiente mau estar lá, ver os caixões, ouvir o choro, ver o desespero e a revolta no olhar daqueles que cá ficaram e viram partir um familiar de uma maneira tão estúpida e revoltante. E serem "obrigados" a ver e rever essas cenas.
É pena não haver quem controle esta espécie de "show-off", havia câmaras de filmar, máquinas digitais, quem sabe telemóveis com câmara, a captar toda a desgraça! As famílias só queriam um pouco de privacidade para poderem chorar os seus mortos, não queriam um circo montado à porta da Sé de Castelo Branco. Onde está a ASAE da comunicação social?
Dizem que a condutora do ligeiro que provocou o acidente está mentalmente perturbada. Eu também ficaria. Sei que ninguém sabe bem o que se passou, que há muitas teorias sobre o acidente, mas a única coisa que eu sei é que se essa senhora não tivesse ultrapassado aquele autocarro, naquele local, àquela hora, talvez 16 pessoas estivessem ainda vivas e mais 13 estariam em casa e não a agonizar numa cama de hospital, sem ninguém saber se vivem ou se morrem. E o atropelamento brutal em Lisboa? Qual é a parte do semáforo estar vermelho que a condutora não percebeu? E a velocidade? Aquilo não é o autódromo do Estoril, é uma rua de Lisboa.
Tudo isto faz-me lembrar um quadro, não sei se bordado a ponto cruz, que está (ou estava) no centro de exames de condução da nossa terra: "O carro é uma arma que mata". Por favor, tenham cuidado.